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SAPATINHOS VERMELHOS.O dia estava lindo. O céu estava azul. Ela calcou seus sapatinhos vermelhos como de costume. Brilhantes, lustrosos, perfeitos. Mas apertados. Os pés doíam, inchados, e se enchiam de bolhas e calos. Por onde passava, recebia elogios: que sapatos tao bonitos! Como brilhavam! E aquele verniz vermelho? Como ela os tinha conseguido? Ela sabia que os sapatos machucavam, que seus pés haviam crescido, mudado. Mas ninguém mais. O resto do mundo invejava os sapatos dela. E, para não tirar os sapatos, tao lindos e dignos de tanto elogio, ela foi criando truques, subterfúgios. Primeiro, decidiu não se movimentar muito. Depois, pediu para sentar. E por fim, quando já não suportava mais as dores que o lindo sapato vermelho causava, como se não houvesse outro remedio, decidiu tira-lo. Que burrice- pensaram os outros! Que pés tao feios e machucados! Ela ouviu, se entristeceu e duvidou de si mesma -  por um segundo, até pensou em calca-los de volta, mesmo que doesse. Mas respirou fundo e se encheu de coragem: os pés, livres agora para crescer e se curar, poderiam leva-la onde ela quisesse. Os sapatinhos vermelhos eram lindos, brilhantes, perfeitos. Mas não cabiam mais.

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